quinta-feira, 23 de abril de 2009

nova bollywood

Uma nova era está começando na maior indústria de cinema do mundo. Não estamos falando de Hollywood, responsável pela produção de uma média de 250 filmes por ano. Há décadas, Bollywood nome pelo qual é conhecido o complexo de estúdios em Mumbai, na Índia joga no mercado quase mil longas-metragens anualmente. Trata-se de um fenômeno de bilheteria não só na Índia, mas em países como Grécia, Paquistão, Indonésia e Estados Unidos, este o lar de uma das maiores comunidades de indianos do mundo. Essa cinematografia extremamente popular, escudada em dramalhões, está passando por uma grande transformação os novos filmes "bollywoodianos" agora têm ambição artística e maior cuidado de produção. A partir deste mês, o público brasileiro poderá conferir a mudança. A Academia Internacional de Cinema, em São Paulo, realiza, entre 12 e 14 de junho, a exibição gratuita de clássicos do cinema indiano e filmes da chamada transição, seguida por debates com especialistas no assunto. Algo semelhante ocorrerá na Cinemateca Brasileira, em São Paulo e no Rio, durante o mês de julho.
Essa nova era está expressa em filmes como Taare Zamen Par, Kabul Express e Chak De! India. Taare Zamen Par (Estrelas na Terra, em hindi) é dirigido, produzido e protagonizado por um dos cinco maiores astros do cinema indiano hoje, Amit Khanna. Nessa produção, não há a presença do herói nem da heroína, dois elementos recorrentes na "velha" Bollywood. Pela primeira vez também, fala-se sobre um problema de saúde; nesse caso, a dislexia infantil. Taare Zamen Par foi a maior bilheteria do cinema indiano no ano passado. Kabul Express também não tem heroína, música ou seqüências de dança, algo impensável há pouquíssimo tempo em Bollywood. De contornos políticos, o filme trata da delicada relação da Índia com o vizinho Paquistão e foi muito bem aceito pelo público, o que demonstra um novo comportamento do indiano. A produção Chak De! India (Torça pela Índia, em hindi) tira as mulheres dos belos vestidos e maquiagens, típicas de Bollywood, e as coloca em uniformes de críquete. Pela primeira vez, elas discutem temas como política, família e sociedade. Antes, tais discussões só existiam na voz de homens.
Durante quase um século, o cinema foi praticamente a única fonte de entretenimento na Índia, já que a TV só abriu canais privados há poucos anos e o país só se tornou destino de shows e peças teatrais a partir dos anos 90. Ao contrário de Hollywood, onde as grandes distribuidoras se organizaram no começo do século 20, na Índia o esquema de produção sempre foi familiar. "Bollywood sempre funcionou assim: um dia, alguém decidia fazer um filme. Pegava um empréstimo, quase sempre no mercado negro, usava metade daquele valor para fazer um filme de baixa qualidade e embolsava o resto. Assim surgiam milhares de produtores no país, num esquema familiar", explica Amit Khanna, presidente da Reliance Entertainment uma das maiores multinacionais da Ásia. As sementes da "nova Bollywood" começaram a ser plantadas em 2000, quando o cinema foi reconhecido como indústria pelo governo da Índia. Com isso, os pequenos produtores entraram em decadência e surgiram os grandes conglomerados de entretenimento no país.
Apesar das mudanças, o cinema indiano ainda é dono de peculiaridades. Como o fato de não permitir o surgimento de uma indústria fonográfica. "Na índia, todas as músicas são criadas para virar fi lmes. Lançamos CDs apenas para criar a expectativa para o filme que chegará depois", comentam os irmãos Bapi e Tutul, compositores de sucessos para filmes. Outra peculiaridade é o mundo dos astros e estrelas, que são endeusados. "Há templos para alguns desses atores. Por isso, inexiste a possibilidade de um astro interpretar um vilão", conta Kishore Namit Kapoor, presidente da escola de atuação que leva seu nome e forma jovens atores. Na Índia, os atuais deuses são Shahrukh Khan e Aamir Khan, que ganham US$ 7 milhões por filme. Não signifi ca que são belos ou bons atores. Shahrukh Khan, por exemplo, não é nenhum dos dois, mas tem carisma com o público, e isso é o que importa. Eis uma cultura que o novo cinema bollywoodiano, em sua busca de qualidade artística, pretende mudar.

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